terça-feira, 31 de julho de 2007

Filme de Semana - FLOWER POWER VIVAM OS 70'S - Terça Feira

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Laranja Mecânica (A Clockwork Orange - 1971) é uma escolha que pode levantar dúvidas e levar a questões da mais diversa índole. O seu realizador, Stanley Kubrick, é apontado por muitos como um símbolo da desconstrução da realidade. Por outros é tido como a consciência mor de uma sociedade que caminha, apressadamente, para a extinção de valores e da própria humanidade.
Perseguido por críticas hostis, Kubrick viria a afirmar que: "Ainda que exista uma grande hipocrisia a respeito da violência, todas as pessoas estão fascinadas por ela. Afinal, o homem é o assassino mais cruel que jamais pisou o planeta". E é esta violência, filmada de maneira condenatória e nunca apologética, que Kubrick nos mostra de maneira crua.
Laranja Mecânica é um filme de antecipação, centrado nas "aventuras de um jovem cujas principais inclinações são a violência, a violação e Beethoven". Sendo um regresso ao triângulo sexo/violência/morte que o realizador já abordara em filmes anteriores (com Lolita e Dr. Estranho Amor como referências incontornáveis).
A acção acompanha o percurso expiatório de Alex, que vai da imaginativa prática do mal (com todas as suas nuances, e liderando um gang) à prisão. Depois de encarcerado, e já conhecido como 655321, Alex transforma-se numa espécie de angelical alter-ego e deixa-se submeter a um tratamento (o Processo Ludovico), que o limpa de todos os seus instintos agressivos (mesmo os de autodefesa), em troca da redução da pena.
Segue-se uma segunda fase em que Alex paga, com o corpo, todo o mal que fizera (a vingança das suas vítimas segue-se, em desfile) e a sua recuperação institucional ao mais alto nível, após uma reviravolta política. "Crime, castigo e recompensa" parece ser o espírito norteador desta metáfora sarcástica e iconoclasta, mas terrivelmente verdadeira, sobre a ironia inerente à relatividade e transitoriedade dos factos e às prerrogativas do poder.
Demiurgo, excêntrico, génio, muitas são as palavras usadas para descrever Kubrick ou para adjectivar a sua obra. Os seus filmes e os seus argumentos proporcionam análises detalhadas e complicadas, muitas vezes sem que se vislumbrem soluções. São obras perfeitas de fruição e interpretação individual. Tentaremos não deslustrar a obra do mestre.



Toda a filmografia de Kubrick aponta para o "herói" solitário que deambula, perdido, por labirintos que são tecidos à sua volta. Geralmente não consegue controlar o destino que o aguarda, e de dédalo em dédalo vai tentando procurar uma saída. Saída esta que pode apenas significar seguir a sua vida. Um labirinto é a analogia perfeita de quem se encontra perdido, de quem não vislumbra as entradas e as saídas.

Ao mesmo tempo, e para lá de toda a iconoclastia e crítica da humanidade que Kubrick nos legou, os seus filmes labirínticos, fechados, sem que se vislumbre o princípio ou o fim, propõem o universo como algo circular, a esfera perfeita, um infinito que se prolonga no reflexo especular dos espelhos que o ladeiam.