segunda-feira, 30 de julho de 2007

Gabriela "Cravo e Canela"

No Brasil, não se sabe se a novela imita a vida ou se a vida vai no enredo da novela. Em Portugal, a novela brasileira entretém como história inventada, ficção, rotina depois do telejornal e dos programas da noite.
Mas foi em Maio de 1977, que a estreia de Gabriela marcou uma outra revolução entre nós. Com a apresentação da primeira novela, houve um reencontro de todos, vivência da democracia conquistada.



O romance de Jorge Amado transfigurado para a televisão estimulou o convívio nas famílias, acordou uma nova consciência social. Os políticos suspendiam os trabalhos da Assembleia Constituinte, em frente da televisão. Os ministros faziam uma pausa de hora marcada e até o Dr. Álvaro Cunhal chegou uma vez atrasado ao programa Mosaico, na RTP, por ver Gabriela. De repente, surgia uma nova sociedade, para além do serviço público de informação e esclarecimento político, educação de massas pela TV. Na novela descobriam-se afinidades com a realidade portuguesa, e o país com 40 por cento de analfabetos iniciou-se em nunca ouvidas expressões, descobrindo a língua comum. Se em 1975 a livre expressão em Gabriela tinha incomodado o Governo Geisel no Brasil, também no Portugal democrático agitou os ânimos. A luta das mulheres pela liberdade, a vivência da sexualidade, a estética sensual do corpo. O machismo, a arbitrariedade dos poderes, a impunidade dos poderosos, a opressão das convenções foram propostas de discussão nacional.



A primeira novela brasileira, chegou e conseguiu colar todas as pessoas ao ecrã, será que foi por causa de Sónia Braga, será que foi pela inovação, será que foi pelo choque, ou simplesmente, porque seria uma forma de esqueçer os dificeis anos que se viva por aqui?Não se sabe, o certo é que Gabriela será sempre lembrada como um dos grandes marcos dos anos 70.